Agora examinaremos de forma mais detalhada o tema da Bíblia. O ensino sobre o futuro Reino de Deus é como um fio de ouro que vai desde o princípio ao fim. Está entretecido dentro dos livros históricos, e através dos profetas. Pode-se encontrar claramente nos Salmos, e aparece de novo no Novo Testamento como tema principal do ensino dos primeiros Cristãos. Vimos nos capítulos anteriores do presente estudo que podemos ter confiança na veracidade da Bíblia, e no capítulo 2 demos uma olhadela ao futuro quando o Reino será estabelecido. Agora abriremos a Bíblia para procurar o fio do Reino de Deus nas suas primeiras páginas e começar a segui-lo através do restante das Escrituras inspiradas.
Ao procurarmos no princípio da Bíblia as primeiras alusões ao Reino de Deus encontra-mo-nos em terreno firme. Jesus disse que no futuro convidaria os justos para o seu reino com estas palavras:
"Vinde, benditos de meu Pai!
Entrai na posse do reino que vos está
Assim, o plano de Deus para a terra tem
estado a desenvolver-se desde do princípio, e o livro de Génesis
(literalmente "começos") leva-nos até esses tempos
remotos. Em que parte de Génesis podemos aprender acerca do Reino de
Deus? Jesus responde à pergunta, pois na sua predição acerca do
Reino amiúde dirigiu a atenção para um homem chamado Abraão. Em
certa ocasião disse aos que lhe perguntavam sobre a salvação: "Quando virdes, no reino de Deus,
Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas..." (Lucas 13:28) Porque Jesus referiu-se particularmente
a Abraão, e ao seu filho e ao seu neto mencionando-os especialmente
em relação com o Reino de Deus? Porque Abraão foi uma das
primeiras pessoas a quem foi-lhe falado deste maravilhoso futuro para
a terra. O Eufrates é um dos maiores rios do
mundo. Nasce nas montanhas do noroeste da Turquia e serpenteia
lentamente pela planície antes chamada Mesopotâmia, dentro do
moderno Iraque. Depois duma viajem de 2.700 quilómetros une-se ao
Tigre para logo desembocar no Golfo Pérsico. Atualmente o deserto
chega quase até ao leito dos rios, mas nos tempos Bíblicos toda a
planície era irrigada através de canais e regueiras tornando-a numa
das mais férteis e populosas regiões da terra. Quando o moderno viajante navega pelo
Eufrates vê muitos montículos de picos planos que surgem a
intervalos na planície do rio. Estas não são colinas naturais, mas
lugares de antigas cidades, onde séculos de acumulação de
escombros elevaram gradualmente o sítio acima da área circundante. Não longe da desembocadura do
Eufrates, na região conhecida como a antiga Caldeia, há um grande
montículo conhecido pelos árabes como o Montículo de Betume. Em
1854 este montículo foi identificado como o sítio de Ur dos
Caldeus, a cidade mencionada na Bíblia como o lugar de nascimento de
Abraão. O sítio da antiga Ur foi escavado de
1922 a 1934 por uma expedição do Museu Britânico sob a direção
de Sir Leonard Woolley. Descobriu-se que Ur tinha sido a cidade mais
importante da área e sobressaía pelo seu Zigurate, ou torre templo.
Esta foi uma séria de plataformas artificiais de ladrilho sólido,
uma sobre outra dando a aparência duma pirâmide baixa e amplia duns
25 metros de altura. Na plataforma mais alta estava o templo dedicado
à deusa lua ao qual chegava-se por degraus construídos nos lados
inclinados da torre. Rodeavam o Zigurate mais templos para a adoração
da lua, e mais além estavam as casas dos habitantes da cidade. Pelo ano 2.000 a.C. Ur era uma cidade
próspera. Ribeirinha ao rio, os barcos eram amarrados aos molhes e
descarregavam as suas cargas em barracões e armazéns. Os mercadores
ricos viviam em casas grandes de dois pisos e enviavam os seus filhos
para escolas onde o currículo incluía exercícios matemáticos tão
difíceis como a extração de raízes cúbicas. Num grande edifício
perto do Zigurate vivia o rei deus o qual presidia sobre a vida civil
e religiosa da cidade. Nesta sociedade bem organizada e
surpreendentemente sofisticada viveu Abrão, cujo nome foi
posteriormente mudado para Abraão. Podemos deduzir que foi um homem
instruído e culto, e provavelmente estava entre os membros mais
importantes da comunidade de Ur. As referências Bíblicas dizem-nos
que a sua família também adorava os ídolos desses dias (Josué
24:2). A Bíblia relata-nos que o Deus
verdadeiro revelou-se a Abrão pedindo-lhe que abandonasse a idolatra
cidade onde tinha crescido, para emigrar para um destino
desconhecido: "Ora, disse o SENHOR a Abrão:
Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a
terra que te mostrarei." (Génesis 12:1) A confiança de Abraão em Deus foi tão
forte que sem nenhuma vacilação obedeceu ao mandato " partiu
sem saber aonde ia." (Hebreus 11:8). Juntamente com esta chamada
para deixar o seu país e família, Deus fez uma promessa solene a
Abraão: "De ti farei uma grande nação,
e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma
bênção!Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que
te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da
terra." (Génesis 12:2,3) Em cumprimento desta promessa Abraão
chegou a ser verdadeiramente pai duma grande nação, já que toda a
raça Judaica descende dele. Mas a promessa abarca muito mais que
isso. As palavras finais desta promessa, "em
ti serão benditas todas as famílias da terra" mostra que não
se tratava duma oferta qualquer. Deus estava a dizer que toda a
população do mundo receberia um dia bênçãos através deste
homem. A promessa a Abraão foi claramente um passo vital na
revelação do plano de Deus para a terra e para o homem. Eis aqui o
fio de ouro do Reino de Deus que aparecendo no primeiro livro da
Bíblia. A importância da promessa de Deus a
Abraão confirma-se pelas muitas referências encontradas no Novo
Testamento. No capítulo 1 observamos que o evangelho pregado por
Jesus eram as boas novas da vinda do Reino de Deus. Ao escrever aos
Cristãos da Galácia, Paulo assinala que o mesmo evangelho que Jesus
ensinou foi originalmente pregado a Abraão 2.000 anos antes quando
Deus fez-lhe a promessa. "Ora, tendo a Escritura previsto
que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a
Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos." (Gálatas
3:8) Como a promessa feita a Abraão estava
incluída no evangelho pregado por Jesus, não é uma surpresa
descobrir que os primeiros Cristãos referiram-se-lhe com frequência.
Quando Paulo foi julgado pela sua fé, abertamente reconheceu que a
sua crença nestas promessas estava em jogo: "E, agora, estou sendo julgado
por causa da esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos
pais." (Atos 26:6) Para os ouvintes de Paulo esta
"esperança da promessa" significava só uma coisa: a
promessa que Deus fez a Abraão. Outra descrição era "a
esperança de Israel" e quando Paulo foi preso por pregar a
mensagem Cristã, exclamou: "Porque é pela esperança de
Israel que estou preso com esta cadeia." (Atos 28:20) Por conseguinte o evangelho Cristão
remonta ao passado até Abraão. Se a promessa feita a Abraão era tão
importante para Paulo é de esperar referências diretas a ela quando
outros escritores do Novo Testamento falaram acerca da missão de
Jesus. Este é exatamente o caso. Lucas registou dois discursos
inspirados pronunciados durante o tempo do nascimento de Cristo. Um
foi o pai de João Batista, precursor do Cristo, e outro de Maria a
mãe de Jesus. Ambos viram na obra de João e Jesus a implementação
da promessa feita a Abraão: "Amparou a Israel, seu servo, a
fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua
descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais."
(Lucas 1:54-55) "Bendito seja o Senhor, Deus de
Israel, porque visitou e redimiu o seu povo... para usar de
misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança
e do juramento que fez a Abraão, o nosso pai." (Lucas
1:68,72,73) Na sua carta aos crentes Romanos, Paulo
assinala que a missão de Cristo foi "confirmar as promessas
feitas aos nossos pais"(Romanos 15:8). Já vimos que a obra de
Cristo foi pregar o Reino de Deus, e aqui a mesma obra é descrita
como o cumprimento da promessa feita aos pais: isto demonstra que as
promessas e o evangelho são o mesmo. Incidentalmente, a promessa feita a
Abraão é um exemplo do ponto tratado no capítulo 2, que o Novo
Testamento depende completamente do Antigo. Aqueles que negam a
relevância do Antigo Testamento para as crenças Cristãs passam por
alto o seus verdadeiros fundamentos. Através destas referências do Novo
Testamento estabelecemos o princípio de que a promessa feita a
Abraão é o evangelho Cristão, estava relacionada com a obra de
Jesus e era a esperança dos primeiros Cristãos. Agora voltaremos a
referir-nos a Génesis para saber algo mais sobre a promessa. Já observámos que Abraão recebeu a
promessa ao abandonar Ur para ir para um destino desconhecido. O
lugar ao qual Deus o conduziu foi a terra de Canaã mais tarde
conhecida como Palestina, onde situa-se o moderno Estado de Israel. Quando Abraão chegou a Canaã Deus
repetiu a sua promessa. Muitos anos mais tarde, depois doutra
demonstração de grande confiança de Abraão em Deus, de novo
reiterou-lhe a sua promessa. Cada vez foram adicionados novos
aspetos. As seguintes passagens são uma declaração extensa da
promessa: "Disse o SENHOR a Abrão, depois
que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás
para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque
toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência,
para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de
maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se
contará também a tua descendência. Levanta-te, percorre essa
terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei."
(Génesis 13:14-17) "Jurei, por mim mesmo, diz o
SENHOR, porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho,
que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua
descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do
mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela
serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à
minha voz." (Génesis 22:16-18) Estas referências contêm muitos
aspetos da promessa e você pode achá-las confusas a princípio. Se
assim é, valerá a pena voltar a ler de novo as referências
anteriores para extrair os ponto principais antes de estudar as
promessas em detalhe. Mas antes de examinar mais de perto este
assunto existem três comentários que eu gostaria de fazer: Primeiro, observe a certeza que Deus dá
a Abraão acerca do cumprimento da promessa. "Jurei, por mim
mesmo" disse Deus. Tal como expressa a carta aos Hebreus, esta é
a máxima garantia: "Pois, quando Deus fez a promessa
a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar,
jurou por si mesmo, dizendo: Certamente, te abençoarei e te
multiplicarei." (Hebreus 6:13-14) Em segundo lugar, Deus instituiu o
ritual da circuncisão como sinal da sua promessa e ordenou que todos
os descendentes varões de Abraão continuassem o costume. Assim em
linguagem Bíblica "a circuncisão" é outro termo para o
povo Judeu e "a incircuncisão" para todos os povo não
judeus ou gentios. Ao combinar os relatos da dádiva da
promessa (ou pacto, como algumas vezes é chamado), podemos fazer uma
lista das principais caraterísticas como segue: A descendência de Abraão
chegaria a ser uma grande nação. Abraão, juntamente com a sua
descendência, herdaria para sempre a terra em que vivia: Canaã,
chamada também Palestina. A descendência de Abraão
"possuirá as portas dos seus inimigos." Em Abraão e sua descendência
será abençoada toda a terra. Este sumário enfatiza o ensino do Novo
Testamento de que esta não é uma promessa trivial. Com palavras
como "para sempre" e "serão benditas todas as nações
da terra" deverá ser obvio que algo muito importante esta a ser
predito. Agora veremos cada aspeto com mais
detalhes. Obviamente aqui devemos usar a palavra
descendência no sentido plural. A promessa era que os descendentes
de Abraão seriam muito numerosos e importantes. A que povo
refere-se isto? Na primeira instância refere-se à
nação de Israel. Cada Judeu pode traçar a sua descendência até
Abraão. Isaque, o filho de Abraão, teve um filho, Jacó, que mais
tarde foi chamado Israel. Este por sua vez teve doze filhos, de onde
descenderam as doze tribos de Israel. No final da sua vida, Jacó
emigrou para o Egito com a sua família, no total 70 pessoas. Uns
400 anos depois de Abraão as tribos de Israel tinham aumentado até
um total entre dois e três milhões de pessoas. Esta jovem nação
abandonou o Egito no Êxodo e eventualmente retornou à terra de
Canaã, tornando-se ali num reino importante por vezes populoso e
próspero. Depois de várias vicissitudes, dispersão e perseguição,
os descendentes de Abraão estão de novo a viver na terra que lhes
foi prometida, onde formaram o Estado de Israel. Mas a possessão dos Israelitas da
terra, do passado ou presente não dever ser considerado como o
cumprimento da promessa a Abraão. Mesmo num período mais próspero
da sua história os profetas continuavam à espera da realização
definitiva do pacto, tal como indicam as palavras da profecia de
Miqueias: "Mostrarás a Jacó a fidelidade
e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste a nossos pais, desde
os dias antigos." (Miqueias 7:20) A nação Judia pode ser vista como um
cumprimento parcial deste aspeto da promessa, mas de nenhuma maneira
a sua completa realização. Quem seria então, a descendência de
Abraão no sentido do propósito de Deus? Nos dias de Cristo a nação Judia
orgulhava-se de descender de Abraão, e assim sendo aplicavam a
promessa a si mesmos baseando-se na sua linhagem natural. "Somos
descendência de Abraão" disseram em certa ocasião (João
8:33), e podemos dar-nos conta da vã satisfação nos seus rostos
quando proclamaram o seu parentesco. Qual foi a resposta de Cristo? "Se sois filhos de Abraão,
praticai as obras de Abraão." (João 8:39) Noutra ocasião disse-lhes João
Batista: "E não comeceis a dizer entre
vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que
destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão." (Mateus
3:9) Qual é o critério que define os
verdadeiros filhos de Abraão? Jesus deu uma pista ao dizer que os
verdadeiros filhos de Abraão devem ter o mesmo comportamento que
Abraão. Esta ideia é ampliada posteriormente no Novo Testamento.
Os filhos de Abraão não são precisamente os seus descendentes
literais, mas sim, aqueles que partilham das mesmas qualidades. A
sua principal qualidade foi a sua fé e confiança em Deus. Chamado
para ir para uma terra desconhecida, obedeceu sem vacilar. Foi-lhe
dito que teria uma multidão de descendentes quando tinha 99 anos de
idade e a sua esposa, 90. Ele acreditou apesar da sua aparente
impossibilidade. Mesmo quando foi-lhe pedido que oferecesse em
sacrifício o seu tão desejado único filho, ele estava disposto a
obedecer. Assim, a fé, em vez da descendência
natural converte as pessoas em filhos de Abraão. Paulo pôs isto
bem claro quando escreveu aos Romanos, e aqui temos um caso onde "a
circuncisão" é usada para descrever os descendentes naturais
de Abraão: "E recebeu o sinal da
circuncisão como selo da justiça da fé que teve... para vir a
ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim
de que lhes fosse imputada a justiça, e pai da circuncisão, isto
é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam
nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai." "Essa é a razão por que provém
da fé... a fim de que seja firme a promessa para toda a
descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas
também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de
todos nós...). (Romanos 4:1-12,16) O claro ensinamento aqui é que ser
Judeu ou Gentio não tem importância no que se refere à promessa.
O que vale é a manifestação duma fé e crença similares às que
possuía Abraão. Paulo afirma isto noutra carta: "Pois todos vós sois filhos de
Deus mediante a fé em Cristo Jesus... Dessarte, não pode haver
judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo,
também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a
promessa." (Gálatas 3:26-29) Agora podemos identificar a
descendência de Abraão com certeza. Não são exatamente os
descendentes literais, os Judeus, mas sim todos os que creem em
Jesus e manifestam em suas vidas o mesmo tipo de fé que Abraão.
Estes "filhos espirituais" são os que finalmente herdarão
as bênçãos contidas na promessa. A seguir estudaremos o significado
destas bênçãos. A promessa que Deus fez a Abraão foi
muito explícita. Abraão possuiria um dia a terra à qual viajou
por ordem de Deus. Foi-lhe dito que percorresse a terra no seu
comprimento e largura como garantia de que um dia seria sua
propriedade. Paulo vai mais além ao dizer que a Abraão foi
prometido que seria "herdeiro do mundo" (Romanos 4:13). Alguma vez cumpriu-se esta parte da
promessa? A resposta é um rotundo "não".
Abraão nunca possuiu a terra. Génesis relata que quando morreu a
sua esposa Sara, Abraão teve que comprar aos habitantes locais um
lugar para sepultá-la. Como ele mesmo disse naquela ocasião: "Estrangeiro e peregrino sou
entre vós." (Génesis 23:4, RC) O fato de que Abraão não tenha
entrado na possessão da sua herança antes da sua morte, é
enfatizado pelos escritores do Novo Testamento: "Pela fé, peregrinou na terra
da promessa como em terra alheia." (Hebreus 11:9) "Nela, não lhe deu herança,
nem sequer o espaço de um pé." (Atos 7:5) A menos que a promessa seja quebrada - e com a existência de Deus como garantia isto é inimaginável - o tempo da possessão de Abraão da terra ainda está no futuro.
Isto confirma-se com algumas outras palavras da carta aos Hebreus: "Pela fé, Abraão, quando
chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por
herança; e partiu sem saber aonde ia." (Hebreus 11:8) De fato é-nos dito que Abraão não
esperava receber possessão da terra nesse momento: "Todos estes(Abrão, Isaque,
Jacó) morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as,
porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra." (Hebreus 11:13) De maneira que outro exemplo da fé
daqueles "pais" foi viver como estrangeiros em terra
alheia, acreditando que um dia herdariam essa terra. Como cumprir-se-á a promessa, se
Abraão, Isaque e Jacó estão mortos desde a antiguidade? Só
poderá cumprir-se através da sua ressurreição. Não há ensino
mais claro na Bíblia do que a ressurreição corpórea dos fiéis
homens e mulheres. Se pensarmos no tempo em que este surpreendente
milagre ocorrerá, então somos levados imediatamente ao nosso tema
principal do Reino de Deus. No primeiro capítulo citei as palavras
do livro de Apocalipse que menciona o tempo quando "Os reinos
do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo."(RC) A
passagem também continua para dizer que é também: "O tempo determinado para serem
julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os
profetas, aos santos e aos que temem o teu nome..."
(Apocalipse 11:18) Este julgamento dos mortos, não só
de Abraão mas também de todos os seus descendentes espirituais,
será precedido pela sua ressurreição. Como Jesus disse: "Não vos maravilheis disto,
porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão
a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a
ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a
ressurreição do juízo." (João 5:28-29) Podemos ver agora a importância das
palavras de Jesus citadas no começo deste capítulo. "Quando
virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os
profetas." Significam que Abraão será ressuscitado dos mortos
para finalmente herdar a terra na qual foi nómada. Isto não será
pelo breve tempo que dura a vida mortal mas "para sempre". Isto era uma parte importante da
promessa. Ao da promessa disse Deus: "Toda essa terra que vês, eu ta
darei, a ti e à tua descendência, para sempre." (Génesis
13:15) Já vimos que a descendência de
Abraão não são necessariamente os seus descendentes naturais mas
os que partilham da sua fé e crenças. A promessa feita a Abraão
assegura-lhes que eles também herdarão uma parte desta terra. Uma
vez mais isto concorda com a pregação de Jesus. Ele deu início ao
seu Sermão do Monte com uma série de bênçãos para os fiéis, e
uma destas foi: "Bem-aventurados os mansos,
porque herdarão a terra." (Mateus 5:5) Agora poderá você entender como
passagens da Bíblia que aparentemente não têm relação entre si
são reunidas e relacionadas por este penetrante tema do Reino de
Deus. Incidentalmente, isto vê-se melhor nas antigas traduções da
Bíblia. É uma das desvantagens das traduções modernas que na
tentativa de usar linguagem moderna perde-se o claro significado de
algumas passagens. Mencionei anteriormente que a palavra
"descendência" pode referir-se a um só descendente ou a
muitos. Segundo a promessa citada no título desta secção
pareceria que para além de ter um grande número de descendentes.
Abraão teria um muito notável. "A tua descendência possuirá a
cidade(lit. porta) dos seus inimigos." No tempo da Bíblia a porta de uma
cidade era um lugar muito importante. Assim como era uma parte vital
da muralha defensiva que rodeava a cidade, também era a área onde
se realizavam todos os negócios, onde eram publicados decretos e
onde os governantes recebiam a homenagem do povo. Existem várias
alusões a este costume nas Escrituras (Rute 4:1-2; Jeremias 38:7;
Jeremias 39:1-4). Assim, a porta era o equivalente ao edifício
municipal das cidades modernas. Logo, o fato de um invasor possuir a
porta de uma cidade significava ter o controlo completo da cidade
depois de expulsar os dirigentes que lá estavam. Deus prometeu a Abraão que teria um
descendente que um dia possuiria "a cidade (lit. porta) dos seus
inimigos." governando sobre eles. À luz do que estudamos até
aqui fica claro que aqui existe uma promessa de enviar Jesus para
estabelecer o Reino de Deus, quando ele possuir "a porta" do
Reino dos Homens e a substitua pelo seu próprio governo. As
palavras das Escrituras: "O sétimo anjo tocou a trombeta, e
houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de
nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos
séculos." (Apocalipse 11:15) Mas não precisamos "Porque toda essa terra que vês,
eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre." (Génesis
13:15). Note a frase a negrito e veja como no
Novo Testamento é usada para referir-se a Cristo: "Ora, as promessas foram feitas a
Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se
falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que
é Cristo." (Gálatas 3:16) Por conseguinte não há dúvida que a
descendência de Abraão refere-se não somente aos muitos que mais
tarde partilharão da sua fé e recompensa, mas também a um
individuo o qual um dia tomará as rédeas do governo do mundo
depois de remover as suas autoridades. Esta pessoa é Jesus. Assim sendo, as caraterísticas do
Reino de Deus que aprendemos das Escrituras encontram-se claramente
incorporadas nesta promessa feita a Abraão. Mas existe um aspeto mais da promessas
que devemos ter em consideração. O MUNDO INTEIRO SERÁ ABENÇOADO EM ABRAÃO E SUA DESCENDÊNCIA Esta é a característica predominante
da promessa, a e de mais longo alcance: "Em ti serão benditas todas as
famílias da terra." (Génesis 12:3) "Nela(descendência) serão
benditas todas as nações da terra." Já vimos que Cristo é o descendente
prometido a Abraão. Qual será a bênção que ele trará para todo
o mundo? É uma bênção dupla. Primeiro, a
Abraão e aos seus muitos descendentes foi prometido que herdariam a
terra para sempre depois da ressurreição dos mortos. Isto implica
o dom da vida eterna. Segundo, o governo do mundo no
regresso de Jesus, trará bênçãos à terra, como vimos no
capítulo 2. Que a vida humana termina na morte é
quase demasiado óbvio para que seja mencionado; mas a Bíblia
explica a razão da morte. É a consequência do que Deus chama de
pecado. Se o pecado pode ser removido, então a barreira que impede
a vida eterna também será removida. No capítulo 9 examinaremos
como foi possível a remoção do pecado através do sacrifício de
Jesus; mas para o presente propósito necessitamos dizer somente que
Jesus tornou possível a vida eterna para a humanidade. "Porque o salário do pecado é a
morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus,
nosso Senhor." (Romanos 6:23) "Porque Deus amou ao mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16) E esta vida sem fim é possível
porque os pecados podem ser perdoados através de Jesus.: "Porque isto é o meu sangue, o
sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para
remissão de pecados." (Mateus 26:28) "O sangue de Jesus, seu Filho, nos
purifica de todo pecado. Se confessarmos os nossos pecados, ele é
fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça." (1 João 1:7,9) Assim, uma parte das bênçãos
prometidas ao mundo através da descendência de Abraão foi o
perdão dos pecados para tornar possível a vida eterna no Reino de
Deus. Isto é claramente ensinado no Antigo e Novo Testamentos.
Anteriormente citei o pensamento final da profecia de Miqueias, no
qual ele esperava o cumprimento da promessa feita a Abraão. A
passagem completa mostra que era o perdão o que o profeta tinha
particularmente em mente: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti,
que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do
restante da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para
sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter
compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniqüidades e
lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.
O Novo Testamento regista as palavras
do apóstolo Pedro em uma das primeiras ocasiões quando a mensagem
Cristã foi pregada depois da morte e ressurreição de Jesus, e ele
também identifica a bênção prometida a Abraão com o perdão
disponível através do sacrifício de Jesus: "Vós sois os filhos dos profetas e
da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão:
Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da
terra. Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente
a vós outros para vos abençoar, no sentido de que cada um se
aparte das suas perversidades." (Atos 3:25-26) Assim sendo, não existe dúvida de
que quando Deus fez a promessa a Abraão, Ele estava prometendo a
vinda do Salvador do mundo, através do qual o perdão e a vida
eterna se tornariam possíveis. Uma bênção de verdade! No capítulo 2 já estudámos as
bênçãos que virão sobre toda a terra como resultado do retorno
de Jesus para estabelecer o Reino de Deus e possuir "a cidade dos
seus inimigos." Mas gostaria de referir uma passagem adicional que
claramente identifica o governo perfeito de Jesus no futuro com o
cumprimento da promessa feita a Abraão. No Salmo 72 há uma bela
descrição do Reino de Deus sob o governo perfeito de Cristo. Paz e
justiça florescerão no mundo, os pobres não mais serão
oprimidos, a terra tornar-se-á frutífera, todos os governantes do
mundo submeter-se-ão ao novo rei, e o seu governo abrangerá todo o
mundo. No final do Salmo tudo fica resumido com palavras que
claramente reiteram a promessa feita a Abraão, "Nela(descendência)
serão benditas todas as nações da terra.": "Nele sejam abençoados todos os
homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado." (Salmo 72:17) Agora podemos entender porque a
promessa feita a Abraão é descrita como O Evangelho. Cada aspeto da
obra de Jesus está incluído no pacto que Deus fez com aquele homem
fiel faz 4.000 anos. A vinda do Redentor, a salvação pessoal, o
estabelecimento do Reino de Deus com Cristo como o seu governante
sábio e bendito, e a possessão eterna da terra por todos os
partilham da fé de Abraão, tudo está incluído. Permita-me neste
resumo recordar-lhes o conteúdo da promessa. Abraão e a sua descendência
partilharão da herança eterna da terra da Palestina, chamada
anteriormente Canaã. Isto implica a sua ressurreição e o dom da
imortalidade. Finalmente, neste capítulo, gostaria
de comentar a força notável da evidência encontrada para suster
este conceito Bíblico do Reino de Deus. Primeiramente foi
apresentada a destruição da estátua de Nabucodonosor pela pedra
que depois encheu toda a terra. Esta é uma clara promessa da
substituição do Reino dos Homens pelo Reino de Deus. Agora, de uma
maneira completamente diferente, e que procede de outra parte da
Bíblia, chega esta mesma mensagem: um tempo de bênção e paz para
o mundo quando o descendente de Abraão triunfe e reine. Isto dá ao
estudante sincero da Bíblia a segurança de que está no bom
caminho.
Esta não é a única evidência. No
capítulo seguinte deste estudo, seguiremos o fio de ouro noutra
parte das Escrituras.UR DOS CALDEUS
A TERRA NATAL DE ABRAÃO
A PROMESSA DE DEUS FEZ A ABRAÃO
A ESPERANÇA DO APÓSTOLO PAULO
O QUE FOI DITO QUANDO JESUS NASCEU
DETALHES DA PROMESSA QUE DEUS FEZ A ABRAÃO
RESUMO DA PROMESSA
OS DESCENDENTES DE ABRAÃO CHEGARIAM A SER UMA GRANDE NAÇÃO
OS VERDADEIROS FILHOS DE ABRAÃO
ABRAÃO E A SUA DESCENDÊNCIA HERDARÃO A TERRA
A HERANÇA DE ABRAÃO PARTILHADA COM A
SUA DESCENDÊNCIA
A DESCENDÊNCIA DE ABRAÃO "POSSUIRÁ A CIDADE DOS SEUS INIMIGOS"
A BÊNÇÃO DA VIDA ETERNA
A BÊNÇÃO DE UM GOVERNO PERFEITO
RESUMO