Literatura - Reino de Deus- Teu é o Reino


Capítulo 5 - Preparando o Reino


PREPARANDO O REINO

Agora examinaremos de forma mais detalhada o tema da Bíblia. O ensino sobre o futuro Reino de Deus é como um fio de ouro que vai desde o princípio ao fim. Está entretecido dentro dos livros históricos, e através dos profetas. Pode-se encontrar claramente nos Salmos, e aparece de novo no Novo Testamento como tema principal do ensino dos primeiros Cristãos. Vimos nos capítulos anteriores do presente estudo que podemos ter confiança na veracidade da Bíblia, e no capítulo 2 demos uma olhadela ao futuro quando o Reino será estabelecido. Agora abriremos a Bíblia para procurar o fio do Reino de Deus nas suas primeiras páginas e começar a segui-lo através do restante das Escrituras inspiradas.

Ao procurarmos no princípio da Bíblia as primeiras alusões ao Reino de Deus encontra-mo-nos em terreno firme. Jesus disse que no futuro convidaria os justos para o seu reino com estas palavras:

"Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está

Assim, o plano de Deus para a terra tem estado a desenvolver-se desde do princípio, e o livro de Génesis (literalmente "começos") leva-nos até esses tempos remotos. Em que parte de Génesis podemos aprender acerca do Reino de Deus? Jesus responde à pergunta, pois na sua predição acerca do Reino amiúde dirigiu a atenção para um homem chamado Abraão. Em certa ocasião disse aos que lhe perguntavam sobre a salvação:

"Quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas..." (Lucas 13:28)

Porque Jesus referiu-se particularmente a Abraão, e ao seu filho e ao seu neto mencionando-os especialmente em relação com o Reino de Deus? Porque Abraão foi uma das primeiras pessoas a quem foi-lhe falado deste maravilhoso futuro para a terra.

UR DOS CALDEUS

O Eufrates é um dos maiores rios do mundo. Nasce nas montanhas do noroeste da Turquia e serpenteia lentamente pela planície antes chamada Mesopotâmia, dentro do moderno Iraque. Depois duma viajem de 2.700 quilómetros une-se ao Tigre para logo desembocar no Golfo Pérsico. Atualmente o deserto chega quase até ao leito dos rios, mas nos tempos Bíblicos toda a planície era irrigada através de canais e regueiras tornando-a numa das mais férteis e populosas regiões da terra.

Quando o moderno viajante navega pelo Eufrates vê muitos montículos de picos planos que surgem a intervalos na planície do rio. Estas não são colinas naturais, mas lugares de antigas cidades, onde séculos de acumulação de escombros elevaram gradualmente o sítio acima da área circundante.

Não longe da desembocadura do Eufrates, na região conhecida como a antiga Caldeia, há um grande montículo conhecido pelos árabes como o Montículo de Betume. Em 1854 este montículo foi identificado como o sítio de Ur dos Caldeus, a cidade mencionada na Bíblia como o lugar de nascimento de Abraão.

A TERRA NATAL DE ABRAÃO

O sítio da antiga Ur foi escavado de 1922 a 1934 por uma expedição do Museu Britânico sob a direção de Sir Leonard Woolley. Descobriu-se que Ur tinha sido a cidade mais importante da área e sobressaía pelo seu Zigurate, ou torre templo. Esta foi uma séria de plataformas artificiais de ladrilho sólido, uma sobre outra dando a aparência duma pirâmide baixa e amplia duns 25 metros de altura. Na plataforma mais alta estava o templo dedicado à deusa lua ao qual chegava-se por degraus construídos nos lados inclinados da torre. Rodeavam o Zigurate mais templos para a adoração da lua, e mais além estavam as casas dos habitantes da cidade.

Pelo ano 2.000 a.C. Ur era uma cidade próspera. Ribeirinha ao rio, os barcos eram amarrados aos molhes e descarregavam as suas cargas em barracões e armazéns. Os mercadores ricos viviam em casas grandes de dois pisos e enviavam os seus filhos para escolas onde o currículo incluía exercícios matemáticos tão difíceis como a extração de raízes cúbicas. Num grande edifício perto do Zigurate vivia o rei deus o qual presidia sobre a vida civil e religiosa da cidade.

Nesta sociedade bem organizada e surpreendentemente sofisticada viveu Abrão, cujo nome foi posteriormente mudado para Abraão. Podemos deduzir que foi um homem instruído e culto, e provavelmente estava entre os membros mais importantes da comunidade de Ur. As referências Bíblicas dizem-nos que a sua família também adorava os ídolos desses dias (Josué 24:2).

A PROMESSA DE DEUS FEZ A ABRAÃO

A Bíblia relata-nos que o Deus verdadeiro revelou-se a Abrão pedindo-lhe que abandonasse a idolatra cidade onde tinha crescido, para emigrar para um destino desconhecido:

"Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei." (Génesis 12:1)

A confiança de Abraão em Deus foi tão forte que sem nenhuma vacilação obedeceu ao mandato " partiu sem saber aonde ia." (Hebreus 11:8). Juntamente com esta chamada para deixar o seu país e família, Deus fez uma promessa solene a Abraão:

"De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra." (Génesis 12:2,3)

Em cumprimento desta promessa Abraão chegou a ser verdadeiramente pai duma grande nação, já que toda a raça Judaica descende dele. Mas a promessa abarca muito mais que isso.

As palavras finais desta promessa, "em ti serão benditas todas as famílias da terra" mostra que não se tratava duma oferta qualquer. Deus estava a dizer que toda a população do mundo receberia um dia bênçãos através deste homem. A promessa a Abraão foi claramente um passo vital na revelação do plano de Deus para a terra e para o homem. Eis aqui o fio de ouro do Reino de Deus que aparecendo no primeiro livro da Bíblia.

A importância da promessa de Deus a Abraão confirma-se pelas muitas referências encontradas no Novo Testamento. No capítulo 1 observamos que o evangelho pregado por Jesus eram as boas novas da vinda do Reino de Deus. Ao escrever aos Cristãos da Galácia, Paulo assinala que o mesmo evangelho que Jesus ensinou foi originalmente pregado a Abraão 2.000 anos antes quando Deus fez-lhe a promessa.

"Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos." (Gálatas 3:8)

A ESPERANÇA DO APÓSTOLO PAULO

Como a promessa feita a Abraão estava incluída no evangelho pregado por Jesus, não é uma surpresa descobrir que os primeiros Cristãos referiram-se-lhe com frequência. Quando Paulo foi julgado pela sua fé, abertamente reconheceu que a sua crença nestas promessas estava em jogo:

"E, agora, estou sendo julgado por causa da esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais." (Atos 26:6)

Para os ouvintes de Paulo esta "esperança da promessa" significava só uma coisa: a promessa que Deus fez a Abraão. Outra descrição era "a esperança de Israel" e quando Paulo foi preso por pregar a mensagem Cristã, exclamou:

"Porque é pela esperança de Israel que estou preso com esta cadeia." (Atos 28:20)

Por conseguinte o evangelho Cristão remonta ao passado até Abraão.

O QUE FOI DITO QUANDO JESUS NASCEU

Se a promessa feita a Abraão era tão importante para Paulo é de esperar referências diretas a ela quando outros escritores do Novo Testamento falaram acerca da missão de Jesus. Este é exatamente o caso. Lucas registou dois discursos inspirados pronunciados durante o tempo do nascimento de Cristo. Um foi o pai de João Batista, precursor do Cristo, e outro de Maria a mãe de Jesus. Ambos viram na obra de João e Jesus a implementação da promessa feita a Abraão:

"Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais." (Lucas 1:54-55)

"Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo... para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança e do juramento que fez a Abraão, o nosso pai." (Lucas 1:68,72,73)

Na sua carta aos crentes Romanos, Paulo assinala que a missão de Cristo foi "confirmar as promessas feitas aos nossos pais"(Romanos 15:8). Já vimos que a obra de Cristo foi pregar o Reino de Deus, e aqui a mesma obra é descrita como o cumprimento da promessa feita aos pais: isto demonstra que as promessas e o evangelho são o mesmo.

Incidentalmente, a promessa feita a Abraão é um exemplo do ponto tratado no capítulo 2, que o Novo Testamento depende completamente do Antigo. Aqueles que negam a relevância do Antigo Testamento para as crenças Cristãs passam por alto o seus verdadeiros fundamentos.

Através destas referências do Novo Testamento estabelecemos o princípio de que a promessa feita a Abraão é o evangelho Cristão, estava relacionada com a obra de Jesus e era a esperança dos primeiros Cristãos. Agora voltaremos a referir-nos a Génesis para saber algo mais sobre a promessa.

DETALHES DA PROMESSA QUE DEUS FEZ A ABRAÃO

Já observámos que Abraão recebeu a promessa ao abandonar Ur para ir para um destino desconhecido. O lugar ao qual Deus o conduziu foi a terra de Canaã mais tarde conhecida como Palestina, onde situa-se o moderno Estado de Israel.

Quando Abraão chegou a Canaã Deus repetiu a sua promessa. Muitos anos mais tarde, depois doutra demonstração de grande confiança de Abraão em Deus, de novo reiterou-lhe a sua promessa. Cada vez foram adicionados novos aspetos. As seguintes passagens são uma declaração extensa da promessa:

"Disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei." (Génesis 13:14-17)

"Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizeste isso e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz." (Génesis 22:16-18)

Estas referências contêm muitos aspetos da promessa e você pode achá-las confusas a princípio. Se assim é, valerá a pena voltar a ler de novo as referências anteriores para extrair os ponto principais antes de estudar as promessas em detalhe. Mas antes de examinar mais de perto este assunto existem três comentários que eu gostaria de fazer:

Primeiro, observe a certeza que Deus dá a Abraão acerca do cumprimento da promessa. "Jurei, por mim mesmo" disse Deus. Tal como expressa a carta aos Hebreus, esta é a máxima garantia:

"Pois, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente, te abençoarei e te multiplicarei." (Hebreus 6:13-14)

Em segundo lugar, Deus instituiu o ritual da circuncisão como sinal da sua promessa e ordenou que todos os descendentes varões de Abraão continuassem o costume. Assim em linguagem Bíblica "a circuncisão" é outro termo para o povo Judeu e "a incircuncisão" para todos os povo não judeus ou gentios.

RESUMO DA PROMESSA

Ao combinar os relatos da dádiva da promessa (ou pacto, como algumas vezes é chamado), podemos fazer uma lista das principais caraterísticas como segue:

  1. A descendência de Abraão chegaria a ser uma grande nação.

  2. Abraão, juntamente com a sua descendência, herdaria para sempre a terra em que vivia: Canaã, chamada também Palestina.

  3. A descendência de Abraão "possuirá as portas dos seus inimigos."

  4. Em Abraão e sua descendência será abençoada toda a terra.

Este sumário enfatiza o ensino do Novo Testamento de que esta não é uma promessa trivial. Com palavras como "para sempre" e "serão benditas todas as nações da terra" deverá ser obvio que algo muito importante esta a ser predito.

Agora veremos cada aspeto com mais detalhes.

  1. OS DESCENDENTES DE ABRAÃO CHEGARIAM A SER UMA GRANDE NAÇÃO

    Obviamente aqui devemos usar a palavra descendência no sentido plural. A promessa era que os descendentes de Abraão seriam muito numerosos e importantes. A que povo refere-se isto?

    Na primeira instância refere-se à nação de Israel. Cada Judeu pode traçar a sua descendência até Abraão. Isaque, o filho de Abraão, teve um filho, Jacó, que mais tarde foi chamado Israel. Este por sua vez teve doze filhos, de onde descenderam as doze tribos de Israel. No final da sua vida, Jacó emigrou para o Egito com a sua família, no total 70 pessoas. Uns 400 anos depois de Abraão as tribos de Israel tinham aumentado até um total entre dois e três milhões de pessoas. Esta jovem nação abandonou o Egito no Êxodo e eventualmente retornou à terra de Canaã, tornando-se ali num reino importante por vezes populoso e próspero. Depois de várias vicissitudes, dispersão e perseguição, os descendentes de Abraão estão de novo a viver na terra que lhes foi prometida, onde formaram o Estado de Israel.

    Mas a possessão dos Israelitas da terra, do passado ou presente não dever ser considerado como o cumprimento da promessa a Abraão. Mesmo num período mais próspero da sua história os profetas continuavam à espera da realização definitiva do pacto, tal como indicam as palavras da profecia de Miqueias:

    "Mostrarás a Jacó a fidelidade e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste a nossos pais, desde os dias antigos." (Miqueias 7:20)

    A nação Judia pode ser vista como um cumprimento parcial deste aspeto da promessa, mas de nenhuma maneira a sua completa realização. Quem seria então, a descendência de Abraão no sentido do propósito de Deus?

    Nos dias de Cristo a nação Judia orgulhava-se de descender de Abraão, e assim sendo aplicavam a promessa a si mesmos baseando-se na sua linhagem natural. "Somos descendência de Abraão" disseram em certa ocasião (João 8:33), e podemos dar-nos conta da vã satisfação nos seus rostos quando proclamaram o seu parentesco. Qual foi a resposta de Cristo?

    "Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão." (João 8:39)

    Noutra ocasião disse-lhes João Batista:

    "E não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão." (Mateus 3:9)

    OS VERDADEIROS FILHOS DE ABRAÃO

    Qual é o critério que define os verdadeiros filhos de Abraão? Jesus deu uma pista ao dizer que os verdadeiros filhos de Abraão devem ter o mesmo comportamento que Abraão. Esta ideia é ampliada posteriormente no Novo Testamento. Os filhos de Abraão não são precisamente os seus descendentes literais, mas sim, aqueles que partilham das mesmas qualidades. A sua principal qualidade foi a sua fé e confiança em Deus. Chamado para ir para uma terra desconhecida, obedeceu sem vacilar. Foi-lhe dito que teria uma multidão de descendentes quando tinha 99 anos de idade e a sua esposa, 90. Ele acreditou apesar da sua aparente impossibilidade. Mesmo quando foi-lhe pedido que oferecesse em sacrifício o seu tão desejado único filho, ele estava disposto a obedecer.

    Assim, a fé, em vez da descendência natural converte as pessoas em filhos de Abraão. Paulo pôs isto bem claro quando escreveu aos Romanos, e aqui temos um caso onde "a circuncisão" é usada para descrever os descendentes naturais de Abraão:

    "E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve... para vir a ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça, e pai da circuncisão, isto é, daqueles que não são apenas circuncisos, mas também andam nas pisadas da fé que teve Abraão, nosso pai."

    "Essa é a razão por que provém da fé... a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós...). (Romanos 4:1-12,16)

    O claro ensinamento aqui é que ser Judeu ou Gentio não tem importância no que se refere à promessa. O que vale é a manifestação duma fé e crença similares às que possuía Abraão. Paulo afirma isto noutra carta:

    "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus... Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa." (Gálatas 3:26-29)

    Agora podemos identificar a descendência de Abraão com certeza. Não são exatamente os descendentes literais, os Judeus, mas sim todos os que creem em Jesus e manifestam em suas vidas o mesmo tipo de fé que Abraão. Estes "filhos espirituais" são os que finalmente herdarão as bênçãos contidas na promessa.

    A seguir estudaremos o significado destas bênçãos.

  2. ABRAÃO E A SUA DESCENDÊNCIA HERDARÃO A TERRA

    A promessa que Deus fez a Abraão foi muito explícita. Abraão possuiria um dia a terra à qual viajou por ordem de Deus. Foi-lhe dito que percorresse a terra no seu comprimento e largura como garantia de que um dia seria sua propriedade. Paulo vai mais além ao dizer que a Abraão foi prometido que seria "herdeiro do mundo" (Romanos 4:13).

    Alguma vez cumpriu-se esta parte da promessa?

    A resposta é um rotundo "não". Abraão nunca possuiu a terra. Génesis relata que quando morreu a sua esposa Sara, Abraão teve que comprar aos habitantes locais um lugar para sepultá-la. Como ele mesmo disse naquela ocasião:

    "Estrangeiro e peregrino sou entre vós." (Génesis 23:4, RC)

    O fato de que Abraão não tenha entrado na possessão da sua herança antes da sua morte, é enfatizado pelos escritores do Novo Testamento:

    "Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia." (Hebreus 11:9)

    "Nela, não lhe deu herança, nem sequer o espaço de um pé." (Atos 7:5)

    A menos que a promessa seja quebrada - e com a existência de Deus como garantia isto é inimaginável - o tempo da possessão de Abraão da terra ainda está no futuro. Isto confirma-se com algumas outras palavras da carta aos Hebreus:

    "Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia." (Hebreus 11:8)

    De fato é-nos dito que Abraão não esperava receber possessão da terra nesse momento:

    "Todos estes(Abrão, Isaque, Jacó) morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra." (Hebreus 11:13)

    De maneira que outro exemplo da fé daqueles "pais" foi viver como estrangeiros em terra alheia, acreditando que um dia herdariam essa terra.

    Como cumprir-se-á a promessa, se Abraão, Isaque e Jacó estão mortos desde a antiguidade? Só poderá cumprir-se através da sua ressurreição. Não há ensino mais claro na Bíblia do que a ressurreição corpórea dos fiéis homens e mulheres. Se pensarmos no tempo em que este surpreendente milagre ocorrerá, então somos levados imediatamente ao nosso tema principal do Reino de Deus. No primeiro capítulo citei as palavras do livro de Apocalipse que menciona o tempo quando "Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo."(RC) A passagem também continua para dizer que é também:

    "O tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome..." (Apocalipse 11:18)

    Este julgamento dos mortos, não só de Abraão mas também de todos os seus descendentes espirituais, será precedido pela sua ressurreição. Como Jesus disse:

    "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo." (João 5:28-29)

    Podemos ver agora a importância das palavras de Jesus citadas no começo deste capítulo. "Quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas." Significam que Abraão será ressuscitado dos mortos para finalmente herdar a terra na qual foi nómada. Isto não será pelo breve tempo que dura a vida mortal mas "para sempre".

    A HERANÇA DE ABRAÃO PARTILHADA COM A SUA DESCENDÊNCIA

    Isto era uma parte importante da promessa. Ao da promessa disse Deus:

    "Toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre." (Génesis 13:15)

    Já vimos que a descendência de Abraão não são necessariamente os seus descendentes naturais mas os que partilham da sua fé e crenças. A promessa feita a Abraão assegura-lhes que eles também herdarão uma parte desta terra. Uma vez mais isto concorda com a pregação de Jesus. Ele deu início ao seu Sermão do Monte com uma série de bênçãos para os fiéis, e uma destas foi:

    "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra." (Mateus 5:5)

    Agora poderá você entender como passagens da Bíblia que aparentemente não têm relação entre si são reunidas e relacionadas por este penetrante tema do Reino de Deus. Incidentalmente, isto vê-se melhor nas antigas traduções da Bíblia. É uma das desvantagens das traduções modernas que na tentativa de usar linguagem moderna perde-se o claro significado de algumas passagens.

  3. A DESCENDÊNCIA DE ABRAÃO "POSSUIRÁ A CIDADE DOS SEUS INIMIGOS"

    Mencionei anteriormente que a palavra "descendência" pode referir-se a um só descendente ou a muitos. Segundo a promessa citada no título desta secção pareceria que para além de ter um grande número de descendentes. Abraão teria um muito notável. "A tua descendência possuirá a cidade(lit. porta) dos seus inimigos."

    No tempo da Bíblia a porta de uma cidade era um lugar muito importante. Assim como era uma parte vital da muralha defensiva que rodeava a cidade, também era a área onde se realizavam todos os negócios, onde eram publicados decretos e onde os governantes recebiam a homenagem do povo. Existem várias alusões a este costume nas Escrituras (Rute 4:1-2; Jeremias 38:7; Jeremias 39:1-4). Assim, a porta era o equivalente ao edifício municipal das cidades modernas. Logo, o fato de um invasor possuir a porta de uma cidade significava ter o controlo completo da cidade depois de expulsar os dirigentes que lá estavam.

    Deus prometeu a Abraão que teria um descendente que um dia possuiria "a cidade (lit. porta) dos seus inimigos." governando sobre eles. À luz do que estudamos até aqui fica claro que aqui existe uma promessa de enviar Jesus para estabelecer o Reino de Deus, quando ele possuir "a porta" do Reino dos Homens e a substitua pelo seu próprio governo. As palavras das Escrituras:

    "O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos." (Apocalipse 11:15)

    Mas não precisamos

    Note a frase a negrito e veja como no Novo Testamento é usada para referir-se a Cristo:

    "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo." (Gálatas 3:16)

    Por conseguinte não há dúvida que a descendência de Abraão refere-se não somente aos muitos que mais tarde partilharão da sua fé e recompensa, mas também a um individuo o qual um dia tomará as rédeas do governo do mundo depois de remover as suas autoridades. Esta pessoa é Jesus.

    Assim sendo, as caraterísticas do Reino de Deus que aprendemos das Escrituras encontram-se claramente incorporadas nesta promessa feita a Abraão.

    Mas existe um aspeto mais da promessas que devemos ter em consideração.

  4. O MUNDO INTEIRO SERÁ ABENÇOADO EM ABRAÃO E SUA DESCENDÊNCIA

    Esta é a característica predominante da promessa, a e de mais longo alcance:

    "Em ti serão benditas todas as famílias da terra." (Génesis 12:3)

    "Nela(descendência) serão benditas todas as nações da terra."

    Já vimos que Cristo é o descendente prometido a Abraão. Qual será a bênção que ele trará para todo o mundo?

    É uma bênção dupla. Primeiro, a Abraão e aos seus muitos descendentes foi prometido que herdariam a terra para sempre depois da ressurreição dos mortos. Isto implica o dom da vida eterna.

    Segundo, o governo do mundo no regresso de Jesus, trará bênçãos à terra, como vimos no capítulo 2.

    A BÊNÇÃO DA VIDA ETERNA

    Que a vida humana termina na morte é quase demasiado óbvio para que seja mencionado; mas a Bíblia explica a razão da morte. É a consequência do que Deus chama de pecado. Se o pecado pode ser removido, então a barreira que impede a vida eterna também será removida. No capítulo 9 examinaremos como foi possível a remoção do pecado através do sacrifício de Jesus; mas para o presente propósito necessitamos dizer somente que Jesus tornou possível a vida eterna para a humanidade.

    "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor." (Romanos 6:23)

    "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16)

    E esta vida sem fim é possível porque os pecados podem ser perdoados através de Jesus.:

    "Porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados." (Mateus 26:28)

    "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça." (1 João 1:7,9)

    Assim, uma parte das bênçãos prometidas ao mundo através da descendência de Abraão foi o perdão dos pecados para tornar possível a vida eterna no Reino de Deus. Isto é claramente ensinado no Antigo e Novo Testamentos. Anteriormente citei o pensamento final da profecia de Miqueias, no qual ele esperava o cumprimento da promessa feita a Abraão. A passagem completa mostra que era o perdão o que o profeta tinha particularmente em mente:

    "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniqüidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.

    O Novo Testamento regista as palavras do apóstolo Pedro em uma das primeiras ocasiões quando a mensagem Cristã foi pregada depois da morte e ressurreição de Jesus, e ele também identifica a bênção prometida a Abraão com o perdão disponível através do sacrifício de Jesus:

    "Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra. Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar, no sentido de que cada um se aparte das suas perversidades." (Atos 3:25-26)

    Assim sendo, não existe dúvida de que quando Deus fez a promessa a Abraão, Ele estava prometendo a vinda do Salvador do mundo, através do qual o perdão e a vida eterna se tornariam possíveis.

    Uma bênção de verdade!

    A BÊNÇÃO DE UM GOVERNO PERFEITO

    No capítulo 2 já estudámos as bênçãos que virão sobre toda a terra como resultado do retorno de Jesus para estabelecer o Reino de Deus e possuir "a cidade dos seus inimigos." Mas gostaria de referir uma passagem adicional que claramente identifica o governo perfeito de Jesus no futuro com o cumprimento da promessa feita a Abraão. No Salmo 72 há uma bela descrição do Reino de Deus sob o governo perfeito de Cristo. Paz e justiça florescerão no mundo, os pobres não mais serão oprimidos, a terra tornar-se-á frutífera, todos os governantes do mundo submeter-se-ão ao novo rei, e o seu governo abrangerá todo o mundo. No final do Salmo tudo fica resumido com palavras que claramente reiteram a promessa feita a Abraão, "Nela(descendência) serão benditas todas as nações da terra.":

    "Nele sejam abençoados todos os homens, e as nações lhe chamem bem-aventurado." (Salmo 72:17)

RESUMO

Agora podemos entender porque a promessa feita a Abraão é descrita como O Evangelho. Cada aspeto da obra de Jesus está incluído no pacto que Deus fez com aquele homem fiel faz 4.000 anos. A vinda do Redentor, a salvação pessoal, o estabelecimento do Reino de Deus com Cristo como o seu governante sábio e bendito, e a possessão eterna da terra por todos os partilham da fé de Abraão, tudo está incluído. Permita-me neste resumo recordar-lhes o conteúdo da promessa.

  1. Abraão viria a ser o pai de uma grande nação. Vimos que isto se refere primeiro ao povo Judaico; mas particularmente ao "Israel espiritual": Os Judeus e Gentios que partilharam da sua fé e confiança em Deus.
  2. Abraão e a sua descendência partilharão da herança eterna da terra da Palestina, chamada anteriormente Canaã. Isto implica a sua ressurreição e o dom da imortalidade.

  3. Foi prometido a Abraão um descendente notável e único que partilhará com ele a herança e tomará em suas mãos o governo do mundo. Vimos que esta grandiosa pessoa é Cristo, e que esta promessa é o mesmo evangelho do Reino que Cristo pessoalmente pregou em Israel.
  4. O mundo inteiro será abençoado em Abraão e em Cristo. Esta bênção é em primeiro lugar a oferta da vida eterna através do perdão dos pecados, tornado possível pela morte de Jesus. Segundo, o governo perfeito de Cristo quando ele governe sobre o Reino de Deus.
  5. A promessa feita a Abraão foi a base da esperança Cristã original ensinada por Cristo e seus apóstolos.

Finalmente, neste capítulo, gostaria de comentar a força notável da evidência encontrada para suster este conceito Bíblico do Reino de Deus. Primeiramente foi apresentada a destruição da estátua de Nabucodonosor pela pedra que depois encheu toda a terra. Esta é uma clara promessa da substituição do Reino dos Homens pelo Reino de Deus. Agora, de uma maneira completamente diferente, e que procede de outra parte da Bíblia, chega esta mesma mensagem: um tempo de bênção e paz para o mundo quando o descendente de Abraão triunfe e reine. Isto dá ao estudante sincero da Bíblia a segurança de que está no bom caminho.

Esta não é a única evidência. No capítulo seguinte deste estudo, seguiremos o fio de ouro noutra parte das Escrituras.

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